Reeditada por Gervásio Lima
Baianamente falando, eu acho porreta e providencial as manifestações dos jacobinenses, principalmente de alguns meios de retransmissão de informações da cidade, em relação à queimada da já combalida vegetação da Serra do Cruzeiro.
Talvez por conta da sua
localização geográfica, o que lhe permite ser vista de vários pontos da cidade;
e da presença de residências, que insistem em invadir o morro, e não tanto pelos
estragos ambientais, as queimadas são a notícia da vez.
Como jacobinense, nascido e criado,
e como um bom baiano, fico retado como são tratados os problemas do município
mais castigado do estado, do ponto de vista ecológico. Concordo plenamente com
a preocupação da imprensa. É louvável e politicamente correta. Mas acredito que
uma discussão mais abrangente sobre o meio ambiente, como um todo, revelará
outros vários absurdos sobre o tratamento dispensado à flora e à fauna de
Jacobina.
Assim como no Cruzeiro, as
queimadas são constantes nas chamadas ‘serras’ da Bananeira, do Leader, do Pico
do Jaraguá, da Pingadeira e outras localizadas fora da visão da população. As
queimadas nas serras são como as pixilingas do Colégio Deocleciano Barbosa de
Castro, que todo ano era certa sua infestação, mas anos e anos se passavam e
nada de concreto acontecia para evitar.
Privilegiada pela natureza,
Jacobina possui um dos maiores acervos ecológicos da Bahia, com locais
verdadeiramente paradisíacos. Patrimônio natural invejável sim, mas totalmente abandonado,
esta é a realidade. A preservação do meio ambiente nunca esteve como pauta
principal de planos de governos. O município não discute, de verdade, políticas
públicas que venham inibir ações contra a sustentabilidade.
Não existe um órgão municipal,
estadual ou qualquer que seja, que atue exclusivamente na proteção e
preservação da natureza. E mesmo com tamanho patrimônio natural, a principal
porta de entrada da Chapada Diamantina, não possui sequer uma guarda específica
para fiscalizar e proteger sua fauna e sua flora.
É clara a necessidade urgente de
se trabalhar a sensibilização em conjunto entre poder público e a população com
a informação e a ação.
É bom lembrar para as autoridades,
especialmente as judiciais, que o crime ambiental nem
sempre é tão chocante quanto outros tipos penais, tais
como homicídio, roubo, estupro, e outros crimes
demasiadamente violentos, que revoltam a sociedade, mas gera prejuízos incalculáveis,
inclusive na vida, dos seres humanos.
O escritor Michael Soulé sintetiza
seu pensamento a respeito da conscientização ambiental, afirmando que "não
conseguimos ensinar as pessoas o amor à vida com argumentos econômicos e
raciocínio lógico. A conscientização depende de um sentimento de comunhão com a
natureza. Para amá-la, é preciso um contato direto, um pé na trilha, a
caminhada em parques, o pôr-do-sol na praça. Não há argumentos que substituem a
experiência direta com o mundo natural".
Gervásio Lima – Jornalista e historiado
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