“O sábio pode mudar de
opinião. O idiota nunca”
O
saudoso músico, compositor, escritor e poeta salvadorense (aquele que nasce ou
que mora em Salvador – Bahia), Raul Seixas, falecido em agosto de 1989, é sem
dúvidas um ícone da música popular brasileira, mas, o que mais impressiona mesmo
era a sua visão real e futurista em relação ao mundo e ao comportamento humano.
A maioria de suas canções, mesmo tendo sido escrita há mais de 50 anos, até
hoje são atuais, com informações e linguagens contemporâneas.
Raul
tinha vasto conhecimento de sociologia, teologia e filosofia, o que é
facilmente notado em suas músicas. A composição Metamorfose Ambulante é um
grande exemplo do seu conhecimento em relação à sociologia. Gravada em 1973, a música,
que garantem os fãs, sites e biógrafos, o artista compôs aos 12 anos de idade,
representava a liberdade, a oportunidade em ter uma opinião e poder mudá-la.
Além
de criticar as ideias impermeáveis, opiniões feitas e repetidas, copiadas e sem
reflexão, Raulzito se mostrou sempre um ser flexível, ou seja, desapegado às
opiniões, ao contrário dos que possuem uma opinião formada e por mais que a
mesma não seja a verdade, insistem em continuar acreditando que estão certos e,
o pior, justificam defendendo seus juízos com esdrúxulas e vazias desculpas.
Mesmo provando que pau é pau e pedra é pedra, continuam afirmando que pau é
pedra.
Em
uma de suas frases, o filósofo alemão, Immanuel Kant, disse: “O sábio pode mudar de opinião. O idiota
nunca”. Metamorfose Ambulante quer dizer justamente isso, os sábios sabem que o
mundo está em constante mudança e por isso é melhor ser uma metamorfose
ambulante do que ter uma velha opinião que nunca muda.
Em
1973, quando a música fez parte do primeiro álbum solo do eterno Maluco Beleza,
o disco Krig-Ha, Bandolo!, acontecia no Brasil uma época de profunda repressão,
onde não era permitido a livre expressão, o direito à opinião e à liberdade de
imprensa. Naquele momento os brasileiros sofriam com as consequências de um
cruel, insano e assassino regime ditatorial militar, que perdurou até 1985.
Ao recorrer à história, percebe-se que as grandes mudanças aconteceram
justamente após a sociedade, o povo, reivindicar e fazer valer seus direitos. Revolução
Francesa (1789-1799),
movimento que teve a participação de vários grupos sociais: pobres,
desempregados, pequenos comerciantes e camponeses, causou um impacto duradouro na história do país
e, mais amplamente,
em todo o continente europeu. A monarquia
absolutista que tinha governado a nação durante séculos entrou em
colapso em apenas três anos. Antigos ideais da tradição e da hierarquia de
monarcas, aristocratas e da Igreja Católica foram
abruptamente derrubados pelos novos princípios de Liberté, Égalité, Fraternité (liberdade, igualdade e fraternidade).
No
Brasil não foi e não tem sido diferente. Alguns fatos marcaram a importância e
o poder da participação popular. O movimento civil ‘Diretas Já’, que reivindicou eleições presidenciais diretas no Brasil, entre 1983 e1984; os ‘Caras-pintadas’, movimento estudantil que
culminou com o impeachment do então presidente Fernando Collor, em 1992, e a
recente série de protestos que aconteceram em várias cidades Brasileiras, em
2013, inicialmente contra os aumentos nas tarifas de transportes públicos e logo
depois abrangendo uma grande variedade de temas como os
gastos públicos em grandes eventos esportivos internacionais, a má qualidade
dos serviços
públicos e a
indignação com a corrupção
política em
geral, levaram algumas cidades a voltarem atrás do reajuste e ao Congresso
Nacional a colocar em pauta de votação e discussões temas relacionados ao que
estava sendo protestado nas ruas.
Tais
levantes são exemplos da força popular, que não precisa necessariamente ir às
ruas protestar e sim, ir às urnas durante as eleições votar, utilizando a razão
como prioridade e a emoção apenas no momento de comemorar.
Gervásio
Lima – Jornalista e historiador
Nenhum comentário:
Postar um comentário