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Ricardo Eletro

A lagarta popular

“O sábio pode mudar de opinião. O idiota nunca”

O saudoso músico, compositor, escritor e poeta salvadorense (aquele que nasce ou que mora em Salvador – Bahia), Raul Seixas, falecido em agosto de 1989, é sem dúvidas um ícone da música popular brasileira, mas, o que mais impressiona mesmo era a sua visão real e futurista em relação ao mundo e ao comportamento humano. A maioria de suas canções, mesmo tendo sido escrita há mais de 50 anos, até hoje são atuais, com informações e linguagens contemporâneas.
Raul tinha vasto conhecimento de sociologia, teologia e filosofia, o que é facilmente notado em suas músicas. A composição Metamorfose Ambulante é um grande exemplo do seu conhecimento em relação à sociologia. Gravada em 1973, a música, que garantem os fãs, sites e biógrafos, o artista compôs aos 12 anos de idade, representava a liberdade, a oportunidade em ter uma opinião e poder mudá-la.
Além de criticar as ideias impermeáveis, opiniões feitas e repetidas, copiadas e sem reflexão, Raulzito se mostrou sempre um ser flexível, ou seja, desapegado às opiniões, ao contrário dos que possuem uma opinião formada e por mais que a mesma não seja a verdade, insistem em continuar acreditando que estão certos e, o pior, justificam defendendo seus juízos com esdrúxulas e vazias desculpas. Mesmo provando que pau é pau e pedra é pedra, continuam afirmando que pau é pedra.
Em uma de suas frases, o filósofo alemão, Immanuel Kant, disse: “O sábio pode mudar de opinião. O idiota nunca”. Metamorfose Ambulante quer dizer justamente isso, os sábios sabem que o mundo está em constante mudança e por isso é melhor ser uma metamorfose ambulante do que ter uma velha opinião que nunca muda.
Em 1973, quando a música fez parte do primeiro álbum solo do eterno Maluco Beleza, o disco Krig-Ha, Bandolo!, acontecia no Brasil uma época de profunda repressão, onde não era permitido a livre expressão, o direito à opinião e à liberdade de imprensa. Naquele momento os brasileiros sofriam com as consequências de um cruel, insano e assassino regime ditatorial militar, que perdurou até 1985.
Ao recorrer à história, percebe-se que as grandes mudanças aconteceram justamente após a sociedade, o povo, reivindicar e fazer valer seus direitos. Revolução Francesa (1789-1799), movimento que teve a participação de vários grupos sociais: pobres, desempregados, pequenos comerciantes e camponeses, causou um impacto duradouro na história do país e, mais amplamente, em todo o continente europeu. A monarquia absolutista que tinha governado a nação durante séculos entrou em colapso em apenas três anos. Antigos ideais da tradição e da hierarquia de monarcas, aristocratas e da Igreja Católica foram abruptamente derrubados pelos novos princípios de Liberté, Égalité, Fraternité (liberdade, igualdade e fraternidade).
No Brasil não foi e não tem sido diferente. Alguns fatos marcaram a importância e o poder da participação popular. O movimento civil ‘Diretas Já’, que reivindicou eleições presidenciais diretas no Brasil, entre 1983 e1984; os ‘Caras-pintadas’, movimento estudantil que culminou com o impeachment do então presidente Fernando Collor, em 1992, e a recente série de protestos que aconteceram em várias cidades Brasileiras, em 2013, inicialmente contra os aumentos nas tarifas de transportes públicos e logo depois abrangendo uma grande variedade de temas como os gastos públicos em grandes eventos esportivos internacionais, a má qualidade dos serviços públicos e a indignação com a corrupção política em geral, levaram algumas cidades a voltarem atrás do reajuste e ao Congresso Nacional a colocar em pauta de votação e discussões temas relacionados ao que estava sendo protestado nas ruas.
Tais levantes são exemplos da força popular, que não precisa necessariamente ir às ruas protestar e sim, ir às urnas durante as eleições votar, utilizando a razão como prioridade e a emoção apenas no momento de comemorar.
Gervásio Lima – Jornalista e historiador

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