Suspeito foi detido no bairro Morrinhos, onde a vítima foi atacada.
Ele foi identificado após vídeo do espancamento ter sido entregue à polícia.
Foi preso na de terça-feira (6) o primeiro suspeito de participar do linchamento da dona de casa Fabiane Maria de Jesus, de 33 anos, no sábado (3), em Guarujá, no litoral de São Paulo. O homem é suspeito de acertar a cabeça dela com um pedaço de madeira. Fabiane foi atacada por uma multidão depois da publicação de um retrato falado em uma página no Facebook de uma mulher que realizava rituais de magia negra com crianças sequestradas. A dona de casa morreu na manhã de segunda-feira (5) após passar dois dias internada no Hospital Santo Amaro.
O suspeito foi detido no bairro Morrinhos, a mesma região onde a vítima
morava e foi atacada. Segundo a polícia, ele confessou a participação
na agressão que acabou resultando na morte de Fabiane. O homem foi
reconhecido após as imagens do linchamento terem sido entregues à
polícia.
Mulher foi espancada por várias pessoas em bairro
de Guarujá, SP (Foto: Reprodução / TV Tribuna)
de Guarujá, SP (Foto: Reprodução / TV Tribuna)
Ainda segundo a polícia, o suspeito, identificado como Valmir Dias
Barbosa, de 48 anos, alegou que tem filhos e que participou da ação por
acreditar que as acusações à vítima, de que sequestrava crianças para
rituais de magia negra, eram verdadeiras. De acordo com a polícia, pelo
menos dez pessoas participaram ativamente do espancamento.
O dono da página Guarujá Alerta, que divulgou o boato que culminou na
morte de Fabiane, prestou depoimento na manhã desta terça-feira. A
polícia não divulgou o nome dele. Segundo o advogado Diego Scarpa, seu
cliente está sendo ameaçado. "São ataques injustos. Estão atacado ele de
forma injusta. Em momento algum será comprovado que meu cliente postou
ou incitou a população", afirma. O advogado admite que o retrato falado e
o boato sobre uma mulher que sequestrava crianças para rituais de magia
negra foram publicados na página Guarujá Alerta.
Familiares e amigos carregaram caixão de Fabiane
(Foto: Anna Gabriela Ribeiro / G1)
(Foto: Anna Gabriela Ribeiro / G1)
Enterro
Centenas de pessoas acompanharam, na manhã de terça-feira, o enterro de Fabiane, que deixa marido e dois filhos, um de 12 anos e outro de 1 ano. A cerimônia reuniu familiares e amigos que não se conformam com a crueldade do crime.
Centenas de pessoas acompanharam, na manhã de terça-feira, o enterro de Fabiane, que deixa marido e dois filhos, um de 12 anos e outro de 1 ano. A cerimônia reuniu familiares e amigos que não se conformam com a crueldade do crime.
O enterro foi realizado no cemitério Jardim da Paz, no bairro
Morrinhos. O marido de Fabiane, Jaílson Alves das Neves, disse que não
sente ódio dos suspeitos. “Para mim a ficha não caiu. Apesar da
brutalidade, não guardo ódio, não guardo esse sentimento ruim no
coração. Espero que não aconteça com mais famílias. Essas pessoas que
agrediram ela e as que assistiram e não tiveram a coragem de salvar uma
pessoa inocente não deram nem tempo de defesa para minha esposa. Quero
que eles reflitam e que isso não aconteça nunca com a família deles”,
explica.
Amigos estenderam cartazes em passeata (Foto:
Anna Gabriela Ribeiro / G1)
Anna Gabriela Ribeiro / G1)
Protesto
Após o enterro de Fabiane Maria de Jesus, dezenas de amigos e familiares realizaram uma passeata no bairro Morrinhos. A população não quer que a imagem do local fique manchada por causa do crime brutal.
Após o enterro de Fabiane Maria de Jesus, dezenas de amigos e familiares realizaram uma passeata no bairro Morrinhos. A população não quer que a imagem do local fique manchada por causa do crime brutal.
Maria José Dias era amiga da vitima há 25 anos e foi a última a ver
Fabiane ainda com vida. “Ela foi buscar uma bíblia que tinha esquecido
na igreja. Tinha pedido para que eu não esquecesse de rezar por ela. Ela
estava bonita no sábado, tinha acabado de cortar e pintar o cabelo. Ela
se despediu e disse que ia ao médico. A Fabiane nunca fez mal a
ninguém. Tiraram o direito de uma bebê crescer ao lado da mãe. Isso não
se faz. Essas pessoas chutaram uma mãe indefesa”, afirma.
Os manifestantes levaram faixas e cartazes com pedidos de justiça.
“Minha maior revolta é que eles fizeram com que a imagem do meu bairro
fosse destruída. Eles acabaram com a imagem das pessoas que moram aqui e
que são honestas e de bem”, explica.
Internautas criticaram administrador de página
Guarujá Alerta (Foto: Reprodução / Facebook)
Guarujá Alerta (Foto: Reprodução / Facebook)
Revolta de internautas
Dezenas de usuários da rede social criticaram duramente o administrador da página e um deles chegou a dizer que a página seria tão culpada quanto os agressores.
Dezenas de usuários da rede social criticaram duramente o administrador da página e um deles chegou a dizer que a página seria tão culpada quanto os agressores.
Em uma postagem feita no fim da tarde de segunda-feira, o dono da
página afirma que está colaborando com as investigações e que não irá se
pronunciar a respeito do caso para não atrapalhar o trabalho da
polícia. Em alguns comentários, os usuários condenaram a publicação do
retrato falado, mesmo sabendo que se tratava apenas de um boato.
De acordo com o delegado Luiz Ricardo Lara, que está à frente do caso,
ainda é cedo para apontar a responsabilidade do administrador da página
Guarujá Alerta. “Caso, durante a instrução do inquérito policial, seja
vislumbrado que, de alguma forma, ele colaborou com o crime, na medida
em que propalou esses boatos, enfim, que praticou uma infração penal,
ele será responsabilizado por aquele ato”, afirma.
Retrato falado elaborado em 2012 foi publicado
na página Guarujá Alerta (Foto: Reprodução)
na página Guarujá Alerta (Foto: Reprodução)
Confusão
De acordo com o inquérito, o retrato falado atribuído a Fabiane havia sido feito por policiais do Rio de Janeiro, da 21ª DP (Bonsucesso), em agosto de 2012. Na ocasião, uma mulher foi acusada de tentar roubar um bebê do colo da mãe em uma rua de Ramos, na Zona Norte da cidade.
De acordo com o inquérito, o retrato falado atribuído a Fabiane havia sido feito por policiais do Rio de Janeiro, da 21ª DP (Bonsucesso), em agosto de 2012. Na ocasião, uma mulher foi acusada de tentar roubar um bebê do colo da mãe em uma rua de Ramos, na Zona Norte da cidade.
Imagens de câmeras de segurança divulgadas na época mostraram uma
mulher passando com a filha de 15 dias no colo e sendo seguida pela
suspeita. A vítima estava levando o bebê para fazer o teste do pezinho
em um posto de saúde. Ao sair da unidade, foi surpreendida pela mulher. G1
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