A Parada de 7 de setembro, como era chamado o dia do desfile que comemora a Independência do Brasil, era para muitos um dia de festa, de uma grande festa; o momento de poder assistir as apresentações das escolas que atuavam na cidade, sendo elas particulares e públicas. A promessa de ‘bônus de gratificações’ nas notas das disciplinas de Organização Social e Política Brasileira (OSPB) e Organização Moral e Cívica (OMC) talvez justificasse a presença maciça dos estudantes de 1º e 2º graus (o atual ensino médio).
Alunos e professores eram envolvidos nos preparativos que chegavam a acontecer meses antes da comemoração. Caras pintadas, com alusão aos nativos que tiveram seus espaços ocupados criminalmente pelos colonizadores portugueses (os índios), as miniaturas de baianas, com seus vestidinhos enfeitados com rendas e bordados e com ojá na cabeça, o aluno de cor mais escura representando os escravos e o aluno ‘menos escuro’ no papel do coronel ou da figura política, eram as configurações expressadas com mais frequência durante as apresentações. As bandas marciais e os veículos movidos à óleo diesel levando as crianças e poluindo o ambiente, complementavam a ‘marcha’.
O novo vestido de chita, a nova camisa de tergal, a vaselina no cabelo, o Kichute ou o Conga e as calças Ustop e de brim, eram, geralmente, o que predominavam no momento. Era um instante único; crianças comiam algodão doce e pipoca, os jovens (que tinham condições financeiras) bebiam Crush, Mirinda ou garapa de cana de açúcar e se deliciavam com os sorvetes americanos. Que momentos...
Saudosismos à parte. O que se percebe quando se remonta ao passado é que os participantes poderiam ter diversos sentimentos durante os desfiles, o de alegria, o de nostalgia, o do próprio histórico mesmo distorcido, entre outros, menos o de patriotismo, de civismo e de cidadania. Era uma data onde os educandários disputavam a melhor apresentação e a quantidade de participantes e onde o público vivia e interagia da sua forma.
Há muitos e muitos anos atrás o desfile era bastante diversificado, movimentado e colorido, longe de prevalecer a ideia de cidadania, até porque, a partir de 1889, data da Proclamação da República, as comemorações do 7 de setembro aconteciam de maneira relativamente informal e espontânea, tendo originalmente apenas um desfile militar nas capitais, pois os primeiros governos republicanos não haviam definido se a grande data nacional seria esta, o 15 de novembro (data da Proclamação), ou o dia 21 de abril (morte de Tiradentes). Foi no primeiro governo de Getúlio Vargas que os estudantes e algumas agremiações e sindicatos foram agregados ao desfile.
Hoje, com a democracia consolidada, com todos os direitos do cidadão garantidos em lei e livres da repressão militar, figuras tentam desvirtuar o real significado da comemoração, incitando e provocando o desgaste de algo que se lutou muito para se conquistar, a liberdade.
Viva a Independência!
Bandeira branca, amor
Não posso mais.
Pela saudade,
Que me invade eu peço paz. – Dalva de Oliveira.
Por Gervásio Lima
Jornalista e historiador
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